Brazilian Wax
Trabalho realizado no contexto da residência
Casa Azul/Emerge Carnaval em Torres Vedras, Portugal
março de 2023.









A partir da observação da cultura carnavalesca da cidade [o maior carnaval do país e que acontece no inverno], das fantasias de bichos de pelúcia, das camadas de peles que se valem os foliões, Von Há coleta tecidos em brechós da cidade, colecionando restos dessa pele de carnaval. Ao mesmo tempo, a pequena cidade também oferece estabelecimentos comerciais de depilação, “Brazilian WAX’, ou seja, ao estilo brasileiro. Mais uma camada de pele brasileira presente da cidade, peles arrancadas e recolocadas, corpos redesenhados, corpos cobertos por pelúcias, peles da cidade, pixos e sinalizações, as muitas e diversas camadas que um carnaval oferece para quem o desfruta, camadas de desejo e de poder ser diferente do que se é no dia a dia.
Ao pintar uma sala de verde Chroma Key – toda a instalação transforma-se num set de filmagens e o visitante torna-se co-autor ao usar o efeito de Instagram Chroma-Há. O filtro possibilita a troca do fundo verde por outras imagens através de um QR code em seu celular. Tudo pode flutuar, mudar de lugar, tomar outros significados.
O fundo verde contrasta com a réplica do monolito preto de Stanley Kubrick [2001 Uma Odisséia no espaço], com duas “mamadeiras de piroca”, uma em bronze e outra em cerâmica trazendo motivos de azulejos portugueses e um pedaço de fantasia de zebra jogado no chão.
O monolito contém igualmente a ambiguidade de significados inerente à prática artística de Von Ha, ao “dar essa dica do que é aquele ambiente, e do que pode vir a ser (...) a partir do seu próprio monolito preto. Quando você pega o aplicativo e olha para aquilo, são dois monolitos conversando e criando um outro mundo.
Relacionando temas como a herança cultural europeia e os modelos instituídos pelas estruturas de poder e sujeitos à crítica popular, o artista associa a cultura popular a questões de género e de identidade. “O corpo é um território político onde ocorrem mudanças e transições que se põem perante o Outro. O corpo é, assim, o lugar da afirmação da celebração e da camuflagem."

