top of page

FOTOGRAFIA E AURA

Mesmo em grandes mostras como essas, as fotografias ainda parecem ser menos consideradas do que a pintura. No Getty e em quase todos os museus elas são sempre apresentadas no subsolo, “protegidas da luz”. Mas seria esse o real motivo? Ou sua natureza facilmente reprodutível é considerada menor? A aura está relacionada à autenticidade, a existência única de uma obra de arte. Portanto, teoricamente, ela não existe em uma reprodução. Mas considerando que a fotografia capta um momento que não pode mais ser alcançado para além daquele “clique”, a fotografia é, segundo filósofo Walter Benjamin, a última instância da aura em torno de uma imagem.

Avançando para o presente, na era do Instagram, quando esse “momento decisivo” é determinado por um processo totalmente diferente e a mudança para a fotografia digital tornou o papel bastante obsoleto, as reproduções caminharam para uma democratização da cultura, onde a imagem reproduzida pode ser acessada e produzida por qualquer pessoa, reforçando esse mecanismo. A mesma imagem que está no museu está também no site do museu, na revista, no jornal, está solta na internet. Isso nos ajuda a entender como uma única imagem pode capturar e imortalizar um momento decisivo criando um ícone instantâneo. Esses ícones parecem compor um storytelling; são imagens que sequencialmente formam uma narrativa quase linear. As imagens produzidas hoje são inseparáveis da história pois elas continuam a contar uma história seja ela qual for e podem funcionar como índices que contribuem para o sentido de uma narrativa.

Aquele conjunto de fotos é muito mais do que uma exposição, é um ambiente que nos coloca imediatamente num outro tempo, talvez no tempo da arte, aquela cheia de aura, na contramão desse mundo acelerado inundado por imagens onde tudo se dilui.

Gustavo von Ha

bottom of page