
GUSTAVO VON HA
“Acredito na importância de repensar e redefinir a atuação do artista no mundo de hoje, ao compreender que trabalhamos num contexto em que a realidade foi substituída por narrativas e imagens”
Na produção de Gustavo von Ha (Presidente Prudente, 1977), a veracidade dos fatos esta sempre em estado de suspensão. Seja nos trabalhos iniciais com espelhos, nos desenhos - cópias que emulam os traços de outros artistas, ou nos trailers de filmes inexistentes, os mecanismos de produção de imagens, a propriedade intelectual e os limites entre realidade e ficção são constantemente problematizados.
Na serie de trailers falsos lançados por sua produtora HEIST FILMS ENTERTAINMENT, criada em 2011, a própria estratégia de circulação dos projetos – que transbordam o espaço convencional da arte, sendo exibidos em salas de cinema e na internet – faz com que continuamente se cruze uma fronteira de extremidades que vai do crível ao absolutamente falso. Nesses vídeos, misturam-se protagonistas reais e fictícios, atores profissionais e amadores, cenas belas sem tratamento de imagem, dando para as obras o aspecto de filmes C.
Em meio aos lugares-comum do cinema e cenas clichês de filmes hollywoodianos que parecem não se completar, por vezes em um inglês mal pronunciado, se concretizam fortes críticas à aparente globalização da industria cultural, que longe de ser antropofágica, naturaliza padrões cinematográficos e imagéticos norte-americanos. Isso fica evidente quando a nossa percepção reconhece os códigos dados pelo artista, e passa a questionar se de fato aquilo que vemos é real. Essa tentativa dos filmes serem o que não são reflete um aspecto chave na poética de Von Ha, que perpassa também os desenhos fac-símiles espelhados de Tarsila do Amaral e Leonilson: como trabalhar as categorias originalidade e autenticidade num mundo permeado por imagens. Para o artista, hoje, “os objetos, artísticos ou não, estão inseridos numa teia sincrônica em que distinções entre ‘tecnologia e cultura’, ‘original e cópia’, ou ‘realidade e representação’ parecem ter perdido o sentido de certa forma, dando lugar a categorias como ‘simulacro e espetáculo’”.
Luise Malmaceda
crítica e editora
Harper’s Bazaar Art, 2015